quinta-feira, 11 de novembro de 2010

OS DILEMAS DE JOSNELSON - PARTE 4

                                                         O ônus do gênio

Como já vimos, o jardim de infância foi responsável por abrir meus olhos aos fatos, o que me proporcionou uma compreensão da “nova” realidade que emergia. Mal eu sabia que era só o início de várias transformações na minha, até então, curta vida.
Após o jardim fui para uma escola particular mantida por uma congregação de irmãs às custas dos bolsos alheios, ou seja, de pais e mães de alunos. Nessa época minha composição familiar era a mesma e a situação financeira também. Eis que (re)começou minha sina, mas não era nada relacionado a grana, por incrível que pareça. Chamaremos esse momento de “Ônus do gênio”.
 Acontece que na primeira série cometi um grande erro. Era uma linda tarde de sol no final do segundo bimestre e a professora, depois de uma breve explicação, escrevia no quadro um exercício para ser resolvido depois de uma nova explicação mais detalhada. Eu nunca copiava no caderno o que era pedido pela professora e naquele dia não foi diferente. Só que desta vez fui longe demais e no meio da aula me deitei no chão ao fundo da sala de aula e comecei a cantar uma musica que estava bombando na época. Foi a maior algazarra e a turma ficou muito dispersa. A professora veio em minha direção, olhou meu caderno e viu que não tinha nada escrito. Me levantou do chão e falou:
- Já que és tão gracioso quero ver tu ser engraçado no quadro resolvendo os exercícios que escrevi.
Entre risadas dos colegas e ordens da professora para que todos ficassem calados fui até o quadro negro, que era verde. Nesse momento eu cavei minha própria cova porque respondi tudo corretamente e deixei a professora soltando fogo pelas ventas. Mal eu imaginava que a professora ia ser o meu menor problema daquele dia em diante.
O fato se tornou público e tomou os corredores da escola até chegar à sala dos professores. Lá alguns professores já tinham conhecimento do meu rendimento em sala de aula e achavam espetacular um guri que entrou com cinco anos na primeira série (esqueci de mencionar isso) não precisar escrever nada.para aprender o conteúdo. Aquele episódio foi a gota d’água que  a professora precisava para que houvesse uma mudança radical e  acabaram me trocarando de turma. Menos mal que me colocaram numa sala onde a professora era uma ótima pessoa. Mas tinha um grande problema, a turma era formada por repetentes, e como eu tinha apenas cinco anos a diferença de idade e de “inteligência” se acentuou ainda mais. Da pra imaginar como eu era tratado pelos colegas. Eles me olhavam como se eu fosse um monstrinho que surgiu ali e muitos ficavam revoltados comigo. Quase apanhei inúmeras vezes, sorte que tinha o mano estudando na mesma escola.
Mas mesmo com todas as adversidades eu continuei me puxando no aprendizado, da mesma maneira de antes, e de repente minha família e algumas professoras decidiram tentar me colocar direto na terceira série no ano seguinte. Esse foi mais um fato que voou pelos corredores e salas de aula da escola. A partir deste momento, quando eu passava não eram só meus colegas que me olhavam diferente. Os outros alunos, pais e funcionários da escola também me comiam com os olhos e cochichavam sem parar.  Comecei a me sentir um monstrinho de orelha e a essa altura do campeonato não tinha nenhum amigo para conversar. Por conta de tudo isso desejei tanto não ter esse dom em muitas ocasiões, pois estava sofrendo uma espécie de bullying, se não o próprio “marvado” do bullying que nem se sabia que existia. Eu queria tanto jogar futebol com a pirralhada, brincar de pegar ou outras coisas e eles fugiam de mim. Alguns até queriam ser como eu, mal eles sabiam a tristeza e solidão que isso causava.
Quando já estava quase me resignando com a situação, para minha alegria, foi recusado pela secretaria da educação o pedido  de me mandararem para terceira direto e no ano seguinte eu passei “apenas” para a segunda série. Então acabei ficando com menos um dos trinta olhos que parecia que eu tinha e começaram a me tratar um pouco melhor. O que não foi suficiente porque no outro ano eacabei mudando de escola, afinal, eles não iam esquecer tão cedo tudo que aconteceu.

Será que a mudança de ambiente vai alterar alguma coisa para Josnelson?
Não perca a parte 5 do "Dilemas".
Posso adiantar apenas uma coisa, no final a culpa sempre é do mordomo.

Por João Gonçalves Neto

Não se esqueça de deixar um comentário, sua opinião é importante para nós!

2 comentários:

Anônimo disse...

Conta maisssssss, adorei a história, estou morrendo de curiosidade para saber da vida deste gênio hehehe.

Blog do João disse...

A seguir cenas do próximo capítulo. Hehehe.