quinta-feira, 11 de novembro de 2010

OS DILEMAS DE JOSNELSON - PARTE 3

Adeus inocência

Visto o perfil da minha família passamos para o momento em que comecei a perceber a que discursos e paradigmas estava sendo submetido. Tinha uns quatro anos e morava numa casa de aluguel, feita de madeira, onde boa parte da vizinhança tinha pouca grana e ao mesmo tempo haviam alguns vizinhos muito abonados. Como já falei, não era nem muito rico nem muito pobre, pois quando tudo acontecia conforme o previsto com o trabalho do meu pai rolava uma boa grana mensal. Em compensação quando falhava ou ocorria algum imprevisto a coisa ficava russa. Para se ter uma ideia de como era a minha realidade meu pai tinha um automóvel (que estava longe de ser zero), sempre tive comida na mesa, andava sempre bem vestido e tinha uma vida social agradável, mas sem muitos excessos. Mas como já frisei, a casa era de aluguel e o meu pai era mestre de obras.
Nessa época fui para o jardim de infância numa escola particular. Não era muito comum naquele tempo crianças passarem primeiro por esta fase para depois ingressar na escola. Na maioria das vezes só quem tinha uma condição financeira razoável usufruía desse privilégio. Experiências deste tipo ajudaram a criar a ideia de que realmente eu estava numa posição diferente das demais crianças que não frequentavam o jardim de infância. Mas como essa faca se mostrou de dois gumes, essa situação também me mostrou  que haviam crianças com mais grana que eu. Tu pode estar te perguntado como é que um piá pode ter noção de tudo isso aos quatro anos. Como falei lá no início, minha imaginação e inteligência me favorecem e  sempre fui considerado pelos adultos um prodígio.
A partir deste momento comecei a ver os fatos de uma maneira diferente, eu percebi que podia ter e fazer determinadas coisas que algumas crianças não podiam e algumas crianças também já percebiam que podiam ter e fazer algumas coisas que eu não tinha condições.
A união dessa nova percepção com as experiências que tive resultou na sina social que dura até hoje na minha vida. Para ser mais específico, quando me relacionava com pessoas menos abastadas que eu me chamavam de “playboy” e ao andar com os mais ricos, por não conseguir acompanhar o ritmo da magrinhagem, ouvia algumas letras e por vezes era escanteado, deixado de lado, pelo fato de não estar no mesmo “nível” que eles. Cara! Isso deixa qualquer um desorientado. Mas esses dilemas e as experiências que eles me renderam vou deixar para contar depois. Até a próxima!

Por João Gonçalves Neto

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